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Os fragmentos que constituem o corpo narrativo de Até Amanhã, de António Murteira, são (...) epígrafes memorialísticas que se pretendem inscritas numa determinada realidade, transcendendo-a para se assumirem como incisivas denúncias de um tempo e das suas alegorias, dos seus imaginários, dos seus percursos, apontamentos críticos de uma realidade que se construiu a mãos ambas, sobre linimentos de um tempo de êxtases, de paixões, de entregas: um tempo sobre o qual o autor reflecte e dele assume os medos, os assombros, a entrega. (…) Há nesta escrita, atravessada por uma poética de grande qualidade metafórica, de íntimos rumores, uma fala orgânica que se vai adensando na medida em que esse exercício evolui e uniformiza. O autor como que busca um interlocutor, um cúmplice para que o diálogo que estes textos procuram, se estabeleça.